quarta-feira, 17 de junho de 2009

As palavras fogem da sua cabeça, assim como qualquer pensamento digno de alguém que se diga são. E todos os dias os passos que levam àquele mesmo caminho, absurdamente rotineiro, travam um colapso nervoso escondido em risadas e piadas sem graça. Camuflam-se entre sinais, carros, buzinas...
Flutuam pelo imenso infinito que separa da realização do desejo.
E os pés se forçam mais ao chão, como quem quer destruir e estraçalhar aquele monte de cascalho que parece estar ali só e exclusivamente para dificultar sua fuga. Mas fugir?Alguém havia falado em fugir?Jamais.
Este nosso pequeno grande homem, Théo, nosso deus endemoniado, jamais fugiria.
O que o movia era exatamente a dor e o ardor de poder estar ali, em direção àquela padaria.
O cheiro do pão, o caminho das formigas que todos fingiam não ver, logo ali, perto da rosquinha de milho. As pessoas estressadas logo de manhã. Cheias de pressa, de trabalho, de telefones, de pessoas, de lágrimas e falsos sorrisos.
Ah!Como isso o maravilhava.
Mas não deste sempre. Aprendera a apreciar mais a vida deste que conhecera Pietra.
Mas isso deixo para contar em outras linhas, talvez.
Sei que a mente do nosso pobre deus andava perturbada, mas incrivelmente feliz.
Crescera entre corais e missas, e o máximo do sexo oposto que chegou a conhecer foi sua mãe, Dona Matilde. Sempre tão zelosa e religiosa. Mal se podia notar sua crueldade e malvadeza enquanto rezava o “Credo” com as mãos atadas.
Essa criação apostólica ofereceu a maior musa de Theo. Por que agora podia ver em Pietra a pele morena de Nossa Senhora Aparecida, e os cabelos de Nossa Senhora de Guadalupe e os olhos da Rainha da Paz. Era a perfeição em forma humana...
Pensava viver ora um pecado, ora um milagre. O incrível milagre que é amar.
E aquele escapulário parecia enforcar-lhe.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Quando colocado na boca amargava e fazia com que meus pêlos se eriçassem.Com a primeira mordida pude notar um gosto um tanto quanto azedo,mas nada definitivo.
Começei então a mastigar,como um predador que encontra a presa desejada.Triturava aquele punhado de dor e perversão com tamanha vontade que espantava à mim mesma.Cada mordida era uma libertação,de forma que ao final eu sentia a insustentável leveza do ser,absurdamente marcada pelo peso.Pesar.Querer.Arrepender-se.Entregar-se ao pecado.
Com a boca inundada em saliva enguli aquele pedaço,neste momento completamente desfigurado,e deixei o resto do serviço para aqueles que se escondem por detrás da epiderme.
E só neste momento,no engulir,pude oferecer ao paladar sua real forma e gosto.
Doce.Como eram doces aqueles deletérios.